Exposição celebra culto ao Divino Espírito Santo - UFSC


Junho é mês de celebração do culto ao Divino Espírito Santo, que permanece como a mais marcante herança cultural dos povoadores açorianos para a religiosidade do povo catarinense. Do peditório e das novenas, à coroação do plebeu e aos cortejos, a Festa do Divino Espírito Santo é a expressão mais viva desse misticismo cultural onde o sagrado e o profano se encontram e onde as classes sociais se igualam por pelo menos três dias.  A exposição Culto ao Divino Espírito Santo, que a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC inicia a partir de hoje (1º) até o dia 15 de julho no Espaço Cultural do Núcleo de Estudos Açorianos é uma oportunidade de conhecer todos os aspectos desse ritual coberto de mistérios e simbolismos que liga o litoral catarinense a Açores.
Fotografias, trajes, objetos em cerâmica, indumentárias e alfaias compõem com heterogeneidade de linguagens essa mostra em reverência à Festa do Divino, que para as comunidades açorianas mais tradicionais é um acontecimento religioso tão ou mais importante que o próprio Natal, segundo Cletison, coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos e historiador. A exposição reúne indumentárias legítimas que vestem os festeiros durante as celebrações e os cortejos, além das alfaias que cobrem a imagem do Espírito Santo, como coroa, cetro, bandeira, bordões, velas e estandartes utilizadas durante as Festas no Arquipélago dos Açores e em Santa Catarina. Tanto aqui quanto lá, são realizadas no mesmo dia, em comemoração ao Petencostes (cinqüenta dias após a ressurreição) que este ano cai em 12 de junho.
Um grande diferencial é a exposição do Cortejo do Divino em cerâmica figurativa que reproduzem os personagens da Festa. As miniaturas produzidas pelos artesãos Paulo e Osmarina Villalva expressam bem a importância simbólica dessa cerimônia, que dura 50 dias incluindo os rituais preparatórios e três dias de festa propriamente dita. Também estão expostos os conjuntos de trajes de imperadores- mirins da cidade de Florianópolis, um Tambor da Folia do Espírito Santo vindo da cidade de Penha e uma Rabeca um instrumento usado nas cantorias do Divino, trazido pelo Nea da cidade de Imaruí, enquanto a Bandeira do Divino Espírito Santo, o maior símbolo da manifestação, é originária da Cidade de Itajaí. Já a Coroa, o Cetro e a Salva em prata lavrada, são originários da Ilha Terceira/Arquipélago dos Açores, esclarece o historiador.
As fotos de Joi Cletison reconstituem os rituais e aspectos das festas do Espírito Santo em cidades de Santa Catarina e dos Açores em São José, Santo Antônio de Lisboa, Ribeirão da Ilha e também do Arquipélago Açorianos Terceira, Graciosa e Pico nos Açores, onde esteve por diversas vezes. Trazem cenas significativas que iniciam pela preparação do ritual com as novenas, o peditório da passagem das comunidades e Irmandades com a imagem do Espírito Santo de casa em casa. Documentam a festa propriamente dita, em suas celebrações sagradas e também profanas, com os cortejos, cantorias, missas, os leilões de prendas arrecadadas, bailes, folias e comilanças até a coroação do plebeu e a eleição do festeiro para organizar o evento do ano seguinte.
A exposição, que comemora também os 263 anos da chegada dos Açorianos a Santa Catarina, está aberta até o dia 15 de julho, de segundas a sextas-feiras, no horário das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas.
 
ORIGEM HISTÓRICA

Criada pelo abade Joaquim de Fiori, a Teoria do Espírito Santo, que deu origem a esse ritual, foi introduzido no século XII, na Itália. Como a celebração fracassou em sua terra natal, o religioso a trouxe para Portugal. O ritual herdado dos açorianos passou por muitas atualizações, como a cobrança dos pratos e quitutes produzidos pela comunidade em favor da Igreja. “Em Açores, toda a comida arrecadada continua sendo distribuída graciosamente como símbolo de celebração e partilha do alimento”, diz Cletison. No arquipélago dos Açores, as esculturas comestíveis de partes do corpo (mãos, pés, braços, cabeça, coração) que são oferecidas pelos beneficiados de uma graça divina em gesto de retribuição, são moldadas em alfenim, uma mistura doce feita de açúcar, trigo e limão. No litoral catarinense, os moldes ganham corpo em massa sovada de pão.
Tanto lá quanto cá permanecem elementos marcantes, como a coroação do plebeu, o ponto alto da festa, quando um religioso transfere para alguém da comunidade a coroa, pela qual recebe o poder real e divino de mediar o destino do seu povo. O gesto significa que a comunidade não precisará de um monge nem de um sacerdote para guiá-la, pois as hierarquias foram suspensas e todos estão em condições de igualdade em um momento de conflito bélico, por exemplo, o que lembra muito os rituais pagãos do Carnaval.
 

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